Quando entrei na cidade, não fiquei exatamente apaixonada. Mas depois que começamos a andar, os muros coloridos das casinhas, os coqueiros, o céu azul (calor de passar mal, não vou te enganar), gente simpática te oferendo o comércio local, táxis amarelos (são bem baratos), charretes, cavalos, ruas infinitas e estreitas, de repente, me senti dentro de um filme e fui aos poucos fisgada – como quando estive em Marrakech, Veneza, Toledo, Rhodes ou Bonifácio – que foram os lugares do mundo que mais tiraram o meu fôlego pela beleza e peculiaridade. Não sei se você é assim, mas quando eu viajo, eu fico tentando buscar dentro das minhas memórias associações com as experiências anteriores, é inevitável. Tinha momento que me sentia na Espanha e tinha momento que me sentia no Marrocos, por detalhes sutis e óbvios – a cidade foi colonizada por espanhóis, que receberam muitas influências do mundo árabe, no passado. As cores são um capítulo à parte. O marido da minha amiga (fotógrafo francês) sempre diz que não gosta de tirar fotos na França porque lá não tem textura (eu não alcancei esta informação, porque Paris e o interior da França foi um dos destinos que mais me encantou na vida), mas depois que cheguei em Cartagena, e vi todas aquelas paredes coloridas, descascadas e uma certa bagunça visual, eu lembrei desta frase e compreendi exatamente o que ele estava querendo dizer: cores e texturas fazem o lugar ter um ziriguidum inexplicável.
Cartagena das Índias é banhada pelo mar do Caribe, foi decretada Patrimônio da Mundial pela Unesco, o centro histórico é todo murado por conta dos ataques de Piratas e foi cenário do romance de Gabriel García Márquez, Amor nos Tempos do Cólera (confesso: li apenas a metade, aliás, fiz o mesmo com Cem Anos de Solidão, infelizmente não deu liga, desculpa aí sociedade). Com um currículo destes, já dá para ter uma certa vontade de pegar as malas e ir correndo para lá – imagine, você tem poucos dias de férias, quer conhecer outro país, outra cultura, mas já foi para a Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Peru (aliás, este destino recomendo fortemente principalmente se você fizer parte do grupo foodie assim como eu). Daí, você decide ir umas horinhas além – a Colômbia pode ser seu próximo destino sim, sem medo de ser feliz.
Para começar, fomos de Avianca que foi super ok, são 6 horas de São Paulo até Bogotá e depois, até Cartagena, é mais uma hora de viagem (na volta, o voo atrasou 4 horas e isso foi bem chato). Chegando lá, o aeroporto fica bem pertinho do centro histórico, onde nos hospedamos – um hotel pequeno, simples e charmoso, que gostei bastante, Casa La Fe, que aliás, me lembrou muito um pequeno Ryad (palacetes antigos que todos os quartos dão para um jardim interno) que ficamos no Marrocos. Todo mundo fica no impasse, ficar dentro da cidade histórica (que não tem praia) ou na cidade moderna (que tem uma extensa praia e várias redes de hotéis) eu vou ser bem categórica neste conselho: fique dentro do centro histórico. A praia da cidade de Cartagena é feia, cheia e acredite, o mar é zero transparente. O ideal é ficar dentro da cidade murada para curtir os restaurantes, museus, hotéis menos impessoais e sair pela manhã para fazer os passeios de barco pelas ilhas. As opções são variadas: existem os passeios pelas Islas Del Rosario que são 27 ilhas a uma distância de uma hora de barco em média (saindo de Cartagena) que você pode reservar no próprio hotel (acho mais confortável) ou ir diretamente no porto. Optamos pela Isla Del Encanto, por ser uma ilha particular e termos o conforto de ter cadeiras de sol, banheiros, piscina e um almoço com comida típica e bem caseirinha, incluído no pacote (uma média de R$ 150,00 por pessoa). A ilha é pequena, com água quente, transparente e areia branca, com opções de outros serviços como snorkeling, garçons trazendo bebidas ou massagem (não incluídos no valor).
Retomando o assunto ziriguidum, a comida para mim, é 80% da viagem. Sim, acordo e durmo pensando no que eu vou comer. Não fiz extensas pesquisas antes da viagem, mesmo porque, foi um pouco de última hora e me deixei levar (meu marido me deu esta viagem de surpresa pelo meu aniversário de 35 anos, aliás, muito obrigada meu amor). Então, quando eu chegava nos restaurantes, pedia para os garçons recomendações. Mas já adianto que me afoguei nos ceviches. Sim, eles fazem umas misturas inusitadas, por exemplo, ceviche com manga verde, kiwi, ou no próprio leche de tigre (aquele caldinho branco do ceviche que vai limão, pimenta, sal e o caldo do peixe fresco), muitos restaurantes costumam utilizar o leite de coco. Aliás, tudo lá tem frutas, como a banana, em forma de chips, purê ou patacones (pedaços de bananas amassadas e fritas), utilizam também muitas frutas amazônicas que mal sei falar o nome e claro, o grande protagonista e saboroso coco. Tem o arroz de coco que geralmente vem acompanhado de frutos do mar, ou uma bebidinha que me deixou viciada, a limonada de coco, que é um suco de limão batido com muito gelo e crema de coco, que a garçonete jurou para mim que é bem diferente do leite de coco de garrafinha que compramos aqui no Brasil. Tem também as tradicionais arepas, que são tortinhas de milho, geralmente recheadas. Não existem infinitos restaurantes estrelados como em Lima, mas a comida latina está completamente em alta no mundo. Em tempo: o incrível Central, em Lima, ganhou o melhor restaurante da América Latina segundo a premiação de ontem, da revista Restaurant, em segundo lugar, ficou o delicioso Astrid Y Gastón e em terceiro, o brasileiro-todo-poderoso D.O.M. e em quarto, o também brasileiríssimo e impecável Maní. Em Cartagena mora uma misturinha bem especial dessas deliciosas referências latinas, ou seja, dá para comer muito bem e fazer desta viagem um passeio gastronômico e cultural inesquecível.
Chega de blá-blá-blá e vamos ao que interessa, as imagens:
Andando pelo centro histórico, você pode se deparar com belas construções
Assistir ao pôr do sol com um drink na mão, ali do Café del Mar é um hit
A livraria Abaco é pequena e muito fofa! Ah, vale um café ali dentro (compramos ali também um livro incrível de receitas colombianas)
Castelo de San Felipe de Barajas é um dos passeios imperdíveis, com túneis e belas vistas da cidade
A vista da cidade fora do muro
Se perder nas ruelas dos bairros do centro histórico é a parte mais legal da viagem e o bairro San Diego tem os restaurantes mais charmosos
Tá fácil a vida pra ninguém, né?
Palacio de la Inquisicion é muito interessante, pois você conhece a história e réplicas de objetos macabros que eles utilizavam na época da inquisição. Recomendo uma visita guiada, vai ter mais graça e mais história
O Museu de Arte Moderna vale uma visita também, os tijolinhos me lembraram a Pinacoteca de São Paulo
A noite em Cartagena é jovem, alegre, com restaurantes e bares para todos os bolsos gostos e idades
Isla del Encanto é agradável e bonita
Este foi o meu prato de almoço no buffet. Repare, não podia faltar os patacones, deliciosos!
A famosa limonada de coco, gamei
***
Agora, vou falar dos restaurantes que fomos:
O Nativo Caribe Fusion possui um ambiente bem pequeno e agradável, fomos para almoçar e adoramos. Tem a opção de pedir o menu do dia que fica bem mais barato que pedir à la carte
Pedimos duas opções de ceviche, um era morno e tinham vários frutos do mar, e o outro, com uma espécie de molho rosê com base de maionese com camarões mergulhados, os dois estavam muito, mas muito saborosos
O arroz de coco, com robalo, chips de banana e um molhinho muito peculiar, onde a manga se sobressaiu de uma forma muito agradável na combinação dos ingredientes
El Bistro é bem cotado por ter um ótimo custo-benefício
A entradinha com camarões mornos estava bem gostosa
Lulas com molho de coco, bom, mas nada de espetacular
O peixe fresco sob um purê de bananas estava saboroso
La Perla entramos porque fomos com a cara e adoramos a comida e o ambiente, considero um dos melhores. Mas de todos, foi o mais caro (El Santíssimo também não é barato, vou falar mais adiante)
Ceviche mais parecido com o clássico peruano, muito bem feito e fresquinho
Ceviche de camarões com pedaços de manga verde e leite de coco também foi uma pedida muito, mas muito feliz
Ravioli recheado de lagostim e molho de pimenta e caranguejo estava impecável
El Santíssimo é o mais famoso deles e agradou muito pelo menu degustação e pelo ambiente muito charmoso. Você paga $ 95.000 (que equivale em média a R$ 118,00 por pessoa) e pode comer uma entrada, um prato principal e uma sobremesa e beber à vontade (tudo isso, em um espaço de duas horas)
Couvert de pães quentinhos com cebola e tomate
Entradinha espetacular: uma espécie de montaditos de polvo morno
Ceviches de peixe fresco com a misturinha inusitada que amei: mangas verdes e kiwi
O filé é feito no sous-vide, mas o prato não é incrível
Peixe fresco, lulas e camarões com legumes e patacones: estava gostoso mas não foi um prato “ual”, sabe?
A sobremesa sim, posso dizer que foi “ual” para fechar com chave de ouro
Animou para conhecer Cartagena?
Error: No posts found.
Make sure this account has posts available on instagram.com.